A tempos eu vinha adiando arrumar meus livros, por eles em ordem de tamanho, cor, alfabética (sim, virginiana convicta)...fazer uma seleção do que deve ser lido, relido..e por aí vai. Tenho um bom número de livros, e confesso que mesmo não tendo lido todos, sempre que me interesso por algum ou tenho a chance de ganhar, compro e aceito com prazer. Os livros me fascinam...me tornam em uma pessoa diferente, em cada linha procuro me tornar a personagem e viver, sofrer, lutar...me torno parte daquela capa dura e folhas escritas com cheiro de velho, mofo...isso me torna viva, capaz, ma verdade o que eu realmente gostaria de ser.
Eu gosto muito do estilo mais fantasioso, com histórias inventadas de reinos, povos e guerras, algo mais épico. Mas tenho outras preferidas que não dispensaria facilmente, que é o suspense. Eu gosto muito quando o livro prende você a algo que ainda vai ser explicado, um mistério. Isso sempre me interessou. É melhor ainda quando a fantasia e o suspense caminham juntas em certos momentos.
Bom, na "faxina cultural" acabei derrubando a pilha de livros no chão, derrubando cigarro, cinzeiro...tornando meu chão num piso de boate as 5 da manhã, ou até mesmo numa esquina da Andradas com a Borges, onde os tocos fazem montes a sua frente. Nesse caos que se tornou minha arrumação, um dos livros caiu aberto...peguei ele, sentei e começei a ler a página direita, até porque, quando olhei a capa não me lembrava onde tinha comprado e o porque...já que na contra capa não existia resenha, apenas uma capa rosa envelhecida com flores secas, parecendo um papel de parede de um hotel velho e sombrio de alguma cidade da Europa....digamos que uma capa triste, muito simples, mas extremamente triste.Pela capa pude sentir a tristeza que ali vinha, pude sentir nostalgia, não minha, mas da personagem, que até então poderia se fictícia.
Confesso que na fase em que ando, não deveria dar atenção a coisas que podem piorar meu humor e aumentar minha tristeza, mas mesmo assim calmamente fui lendo as frases que ali estavam, abertas, em letras grandes,contando uma história qualquer...na verdade muito parecida com a minha!
O livro se chama "Folhas soltas de um Diário" de Elena Arkind.A autora faz uma reflexão sobre a vida e divide com o leitor experiências pessoais de forma direta e sincera que vivenciou nos seus 82 anos. Elena Arkind narra sentimentos e reflexões sobre o mundo, as pessoas, a sociedade e o amor. Dividido em quatro partes o livro narra momentos singulares de sua vida.
A primeira frase que li e que chamou atenção e me fez ter um interesse monstruoso em começar a devorar aquelas páginas foi a seguinte:
"...fazia tudo parecer distante e fantasmagórico. Eu estava andando, andando, pensando, relembrando, me torturando..."
Exatamente o que tenho passado, parece que por magia ou apenas coincidência aquele livro escondido na última pilha da estante já com inúmeros outros livros amassados e com anotações, caiu aberto no chão sujo de cinza.
Comentei com uma amiga que tinha começado a ler o livro e do que o mesmo se tratava, já ela preocupada comigo me disse que eu deveria achar coisas mais alegres para ler, algo que me tire dessa solidão e tristeza por qual tenho passado. Acredito que possa mesmo mascarar minha tristeza um livro divertido, mas o livro divertido e colorido não iria despertar o que esse despertou.
Estou no final do livro, posso dizer que é triste mesmo ver o que a Elena passou, a solidão durante toda sua vida, o amor não correspondido e incompreendido. É incrível como podemos aprender com a tristeza alheia. Pude tirar uma lição com essa leitura. Não uma lição qualquer, mas a mais importante dessa fase, ou até mesmo da minha vida: NÃO QUERO CONTINUAR A VIVER ASSIM, NÃO QUERO CHEGAR AOS MEUS 60, 80 ANOS E LER NOS MEUS ARQUIVOS QUE LEVEI UMA VIDA TRISTE E SOLITÁRIA.
Tenho que tomar como lição que a vida é uma só...os anos passam...e o que eu tiver que fazer para realizar meus sonhos...FAREI!!
"...Meu Deus, pra que tanta pressa?Passar pelas estrelas sem tempo de cumprimentá-las."
"...Infelizes somos nós afortunados de sorte. Os que têm tempo demais para pensar. Os que de barriga cheia estão a reclamar alimentos para a alma, a pedir encanto e poesia da vida vazia de todos os dias."
"...Quantas recordações, que tumulto interior! Em que lugar bem escondido, todo o meu ser está chorando."
"...Eu sabia disso tudo e o amava mesmo, porque os amados e os amigos a gente aceita como eles são."
"...Se ao menos conseguíssemos aprender a não esperar das pessoas mais do que elas são capazes de dar..."
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